“Como cidadão, penso que já dei a minha contribuição a Nanuque”
Durante mais de 40 anos, a classe política de Nanuque conviveu com uma certeza: toda configuração de uma eleição municipal – escolha de candidatos, articulações, alianças, coligações etc. – passava, sem desvio de rota, por uma casa localizada no início da Rua Lagoa Santa, nº 48, Centro.
Era – e ainda é – a residência de João Gonçalves dos Santos, o Prof. Tim. Na efervescência do período eleitoral, sempre foi um entra-e-sai de políticos, entre pretendentes a candidatos, candidatos, líderes partidários, gente da esquerda, direita e do centro, puxa-sacos, vencedores, perdedores e até os “empata” qualquer coisa...
Em novembro de 1944, no dia 1º, considerado Dia de Todos os Santos, em Araçuaí, Vale do Jequitinhonha, nasceu João Gonçalves, que também se tornou “dos Santos”. Daqui a poucos meses, vai emplacar 78 anos e já prepara a temporada seguinte, das oito décadas de vida, com lucidez e ação, sempre ao lado de sua fiel companheira Eloina.
No final do mês passado, Tim decidiu comprar uma casa na praia de Nova Viçosa/BA, a 150 km de Nanuque, e mudou-se pra lá, mas garante que não perdeu os vínculos com a terra nak-nuk.
O JORNAL DE NANUQUE conversou rapidamente com ele:
JN – Grande Tim, você realmente trocou Nanuque pro Nova Viçosa?
TIM - Não mudei definitivamente para Nova Viçosa. Digamos que Nova Viçosa passou a ser o meu templo de reflexão... Devo ficar bem mais tempo em Viçosa por questão de clima e topografia, pois fazemos a nossa caminhada com bastante conforto na orla da praia... Aos poucos vou migrando...
JN – Por que escolheu Nova Viçosa?
TIM – Sempre foi a praia onde eu levava os filhos para passar nas férias, conheci políticos e pescadores fantásticos, que de canoas enfrentavam as ondas do mar, e já participei de muitos eventos culturais. A topografia das praias proporciona uma caminhada matinal agradabilíssima. Eu e Lola estamos praticando.
JN – E agora, como fica Nanuque sem você no dia a dia de todos os dias?
TIM – Vou fazer referência e reverência à classe política em nome do saudoso irmão camarada Antônio dos Santos, ex-vice-prefeito de Nanuque no governo do ex-prefeito Miguel Viana de Oliveira, entre 1963 e 1967, falecido em dezembro de 2018, aos 91 anos. Foi um dos fundadores do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), em 1966, partido que fazia oposição ao regime militar instalado no país. Por isso, foi bastante perseguido.
Um fato curioso é que, quando ganhou a disputa de vice-prefeito, nas eleições de 1962, ele teve mais votos que o próprio prefeito. Naquela época, a legislação permitia candidatura avulsa de vice, sem ser atrelada à chapa do prefeito.
Antonio dos Santos era muito amigo de Robinho, ex-prefeito de Nova Viçosa e deputado estadual pela Bahia em seu segundo mandato. Digo que tenho um compromisso político, historicamente moral, em nome de Antonio dos Santos, e achei o momento oportuno, mesmo com a minha insignificância política local, de ajudá-lo na campanha para o terceiro mandato de deputado.
Antonio Pereira Santos, ex-vice-prefeito de Nanuque
JN – Então, política em Nanuque, nunca mais?
TIM - A gente nunca pode dizer 'nunca mais'. No entanto, como cidadão, penso que já dei a minha contribuição a Nanuque. Fiz e tentei fazer até o impossível dentro da conjuntura política, mas agora resolvi juntar o útil ao agradável, cumprir um compromisso moral com o Robinho, em nome do inesquecível camarada Antônio dos Santos, e tentar ajudar a minha nova cidade.
JN - Desde que passou a morar em Nanuque, em 1955, ou seja, 67 anos atrás, você sempre participou da vida social, educacional, econômica e política da cidade. Poderia falar um pouco desse seu engajamento, ressaltando conquistas, sucessos, decepções, pessoas importantes etc.?
TIM - Em Nanuque, desde que passei a residir definitivamente, em 1955, como você falou, participei de vários projetos, especialmente na área da infância e juventude, tais como: criação do 2º Grau (atual Ensino Médio) nas escolas estaduais Polivalente e Stella Matutina, escola de 1º grau (Fundamental) Pastor Paulo Nobre Nascimento; Projeto Favo de Esperança, no Lar Maria de Nazaré, instalação e regularização da Creche Cruzeiro do Sul, na minha venerância da Loja Maçônica Estrela do Mucuri. Presidi e instalei o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Projeto CEAN, instalado e dirigido pela Funabem/Febem-MG; coordenei a reforma da cadeia, com a comunidade local e circunvizinhança, hoje Presídio Regional de Nanuque; também coordenei o projeto do polo universitário federal a distância.
Fui secretário de Administração, Fazenda e Planejamento no governo de Teodoro Saraiva (1993-1996), secretário de Educação no governo de Nide Brito (2009-2012), além de outras iniciativas de cunho social e educacional. Ah, meu primeiro projeto social foi a praça de lazer do bairro Israel Pinheiro. Consegui com secretário de Esportes e Lazer de MG, Leopoldo Bessoni, que me pediu que essa obra saísse em nome do camarada Kemil Kumaira e Luiz Leal, ex-deputados mineiros de Teófilo Otoni. Os políticos podiam até ser demagogos, mas eram solidários, parceiros, amigos.
Tive o prazer de estar ao lado de personalidades importante como Emílio Boudens, Otto Landa, professora Valdineia, Terezinha Luiz e tantas outras educadoras fantásticas, que não vai ter espaço para falar. No campo social, Tereza, Ely do saudoso Tonga, Ivone de Diamantino, Matilde, Luzia de Grapete, Eliane Pavão e tantas outras... O saudoso Pastor João deve ser lembrado com méritos. Recordo com carinho do José Caires, prefeito entre 1982 e 1988. Mas, sem dúvida, o maior de todos os políticos de Nanuque foi Antonio Pereira dos Santos, meu eterno mestre, uma enciclopédia. Fui secretário do MDB e um dos fundadores do PT em Nanuque; depois passei pelo PSDB e, finalmente, PPS-23, hoje Cidadania-23. Sou membro do diretório estadual e coordenador dos vales Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus.
Arquivo: página do jornal O Popular, publicado pelo diretório local do PPS (atual Cidadania), edição de abril de 2008
JN – Muitas lembranças das campanhas eleitorais de Nanuque?
TIM – Sim, muitas lembranças, muitas boas, outras nem tanto, algumas desastrosas, não por minha culpa, claro... Na eleição de Teodoro prefeito e Jorge Miranda vice, em 1992, auxiliei Antônio dos Santos na coordenação da composição da chapa com o saudoso camarada Liberato, posteriormente fechada com Jorge, e foi um sucesso. Na campanha de Nide prefeito e Evando Caires vice, em 2008, eu e o amigo e colega Ademir Jr., revezando como presidente e vice do PPS, definimos a composição com Dr. Armando Gomes, novamente com sucesso. Em 2012, na campanha de Ramon/ Alba, ajudei na composição da chapa e conseguirmos de novo sucesso absoluto, um tostão contra um milhão, e um jovem dentista contra um empresário de sucesso na região. Em 2016 e 2020, o partido lançou Gleusa Ramos; perdemos as duas com a teimosia de Gleusa. Prefiro não falar detalhes a respeito das duas últimas campanhas. Quero guardar na memória as boas recordações.
JN – Então, daqui por diante, prioridade é Nova Viçosa?
TIM – Diria que sim. Estarei ficando cada vez mais tempo na Bahia e menos em Minas. Se solicitado ou consultado, poderei dar alguma contribuição ao cenário político de Nanuque, mas, como já afirmei, minha contribuição cidadã foi dada a esta linda e querida cidade do Vale do Mucuri de Minas Gerais, no transcorrer de 67 anos.
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